quinta-feira, 7 de junho de 2012

Todo psicólogo é louco? Não se iluda. Nem um pouco!




“De médico e louco todo mundo tem um pouco”. Essa frase é bastante conhecida e se extendeu aos psicólogos porque vinha dos psiquiatras, profissão afim. Freud também disse “de perto ninguém é normal”. Concordo e nem gosto da palavra normal.

Mas daí, inventaram de repetir a asneira que todo psicólogo é meio doido. Nada contra os loucos, mas verdade seja dita, ficar falando isso de forma desqualificatória, descuidada, jocosa e pejorativa é, no mínimo, tolice.

Muitas vezes um louco é bem mais lúcido que um pseudo equilibrado que se intitula "normal".

Normal? Que palavrinha mais medíocre e seu conceito é bem arbitrário. Nunca quis ser normal.

Outra confusão é a idéia contrária. Achar que um psicólogo é incompetente em seu ofício só porque é espontâneo em seus momentos de lazer.

Acontece que ao invés de repetir asneiras diversas, porque não questionamos a repetição e o que estamos falando?

Normalmente as pessoas, formadas em psicologia, percorrem um caminho que envolve se submeter a processos psicoterapêuticos, ver e estudar a doença mental de perto. Aprendem que enxergar que por trás das melhores aparências podem morar histórias bem mal resolvidas, ter a certeza de que todos nós maquiamos a realidade e que sonhos são verdadeiros “mapas da minha”.

Sabemos que nada em nossa vida passa despercebido, que nada é tão simples e que não esquecemos absolutamente nada, nós guardamos em alguma gavetinha do nosso inconsciente, com uma plaquinha do lado de fora indicando que tipo de sentimento se refere àquele material guardado.

O ser que estudou psicologia com afinco e mergulhou em suas profundezas de alguma forma ou com algum trabalho transpessoal direcionado, tem a certeza de que entre o céu e a terra há mais mistérios do que a nossa vã filosofia é capaz de imaginar, assim como disse o grande gênio Shakeaspeare.

Portando, por esse saber e entender, esse indivíduo psicólogo pode ver a vida de forma um pouco diferente. Louco? Não, nem um pouco! Ele só tem uma tendência e ter relação mais estudada com o externo, observa o contexto por uma ótica mais científica, mais requintada digamos, treinada, como se usasse uma lupa imaginária. E quando esse psicólogo deflagra algo que um alguém não quer ver ou não concorda, então esse alguém se rebela, pois não queria ter consciência daquilo. Natural, é difícil se encarar.

Esperam que ele seja sério, concentrado, sorria contidamente, fale com clareza, não tenha dúvidas sobre nada, muito menos problemas pessoais. Será que existe alguém assim? E se ele é muito sério no lazer ou muito exigente em seus gostos pessoais o chamam de chato.

Costumam exigir um equilíbrio inexplicável dos psicólogos ou acham que todos são meio loucos. Eles não podem ter falhas? Isso significaria falhar em seus consultórios? Um médico não pode ter problemas de saúde, um economista passar por uma crise financeira ou um advogado sofrer um processo?

Psicólogos podem sim, ter dúvidas e problemas, mas o que vai diferenciá-los talvez das outras pessoas é a forma de resolvê-los, entendê-los, solucioná-los e manejá-los. Ser psicólogo pode facilitar, mas ele continuará sendo humano, cercado de outros humanos que constroem a vida com ele.

Será que dá para olhar uma pessoa alegre, em seu momento de lazer e só porque ele é psicólogo dizer: “Esse aí é meio maluquinho para ser psicólogo”?

A pessoa que faz esse “diagnóstico” com um CID* inventado na hora compara a alegria e a espontaneidade à loucura e ainda julga esse estado humano como incompatível com a profissão desse alguém, como se este alguém estivesse atuando como psicólogo 24 horas?

Além do mais, aprendemos na faculdade que o que faz de nós capazes de sermos um psicólogo com excelência e ter a capacidade de empatizar é justamente  sermos humanos e provar das mesmas delícias e dores que qualquer um que vem até nós pedir ajuda. No consultório, vestindo a “função”, treinados e munidos de teoria e sensibilidade é que vamos construir com o paciente um caminho de reconhecimento de tudo que é verdadeiro e que faz mais sentido para ele, e assim encontrar saídas em busca de  amadurecimento.

No geral, as pessoas insistem em duvidar dos outros. Costumar duvidar da capacidade tecnica de um psicólogo, julgando-o em seus momentos de lazer, pode significar “jogar a toalha” e dizer, “nunca farei terapia, não posso confiar num psicólogo, que é humano igual a mim”. Na verdade essa atitude mostra que você já duvida do humano mais importante: você!

*CID – Código Internacional de Doenças. Cada doença tem um código de identificação, que consta num livro (Manual).

Por Cintia Liana

Um comentário:

  1. Na verdade, há mais coisas entre o céu e o ego do que teoriza nossa vã psicanálise.

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